No Brasil, o despacho das usinas é ditado por modelos matemáticos, com objetivo de atender a demanda por energia ao menor custo operativo possível. Uma das saídas desses modelos é o custo de produção da energia em um determinado período, o qual torna-se uma referência de preço de mercado.
Como em qualquer modelo de simulação, procura-se representar a realidade da melhor maneira possível, porém em muitos casos há necessidade de simplificações, que a todo momento estão sujeitas à melhorias. Justamente por estarem diretamente relacionados aos valores praticados pelo mercado de energia elétrica, a previsibilidade e a transparência desses ajustes são de extrema relevância para a mitigação de riscos.
Na Programação Mensal da Operação (PMO) de outubro de 2019 foram inseridos alguns aprimoramentos e correções na cadeia desses modelos decorrentes de novas metodologias e erros apresentados no início do mês.
Foi identificado um erro no modelo de médio prazo, basicamente os cálculos não estavam considerando corretamente a função de produção das usinas hidroelétricas de Santo Antônio e Jirau, localizadas no estado de Rondônia. O impacto do ajuste desses cálculos para os preços da semana em curso foi de aproximadamente R$ +2/MWh.
O alvo de aprimoramentos foram os modelos de previsão de vazões e previsão de chuva. Na vazão, o objetivo foi calibrar parâmetros que representavam melhor a chuva no cálculo das afluências.
Quanto a previsão de chuva, buscou-se aperfeiçoar o método de remoção neste viés. A nova metodologia facilita a generalização de outras previsões, permitindo acrescentar dados de outros centros meteorológicos. Além disso, agora pode-se capturar o dinamismo de assertividade ou erro ao longo do tempo. Por exemplo, se as previsões de chuva estão mais assertivas em um determinado período elas ganham mais confiança e vice e versa.
Estima-se que o impacto desses aprimoramentos na vazão e na chuva causaram uma elevação em torno de R$ 3/MWh no preço da semana em curso.
Não há dúvidas que a melhor representação da realidade na cadeia de modelos do setor elétrico traz benefícios para os agentes, porém a transparência, previsibilidade e reprodutibilidade são fundamentais para mercados maduros.
A Resolução Nº 7 do Conselho Nacional de Política Energética de 2016 e a Resolução Normativa Nº 843 da Agência Nacional de Energia Elétrica de 2019 trouxe um avanço nesse sentido, mas ainda há muito a evoluir, tendo em vista os impactos nos preços de mercado. Essa “bandeira” deve estar sempre no radar dos agentes e entidades governamentais.