A autoprodução de energia elétrica promete ganhar ainda mais espaço no setor energético brasileiro. Esse foi um dos destaques do Giro Energia, podcast da Ecom Energia. A chegada de novas tecnologias e a possibilidade de redução do peso dos encargos na conta de luz, tornam a autoprodução atrativa para as empresas que buscam previsibilidade dos seus gastos e veem na modalidade um caminho para o desenvolvimento sustentável. Por meio do investimento em fontes limpas de energia, podem reduzir também as suas pegadas de carbono.
Entenda como funciona
Na autoprodução de energia elétrica, o consumidor gera e consome a sua própria produção de eletricidade. Nesse sentido, dispõe da possibilidade de substituir parte de sua demanda ou optar pelo seu total suprimento. Em contrapartida, vantagens como deixar de pagar encargos setoriais que impactam no custo da energia e poder vender para a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) o excedente não consumido, gerando receita adicional ao negócio, tornam o investimento ainda mais atrativo.
De forma geral, o interesse está concentrado, principalmente, em usinas eólicas e solares, que impulsionam a iniciativa devido ao menor custo oferecido por essas fontes. Além disso, elas possibilitam às organizações ampliarem a adoção de práticas ESG em sua estrutura operacional.
No Brasil, a geração de energia elétrica em centrais de serviço público e autoprodutores atingiu 626,3 TWh em 2019, resultado 4,1% superior ao de 2018 de acordo com o último Balanço Energético Nacional (BEN). A autoprodução (APE) em 2019 participou com 16,3% do total produzido, considerando o agregado de todas as fontes usadas, chegando a um total de 102,4 TWh. Desse número, 57,3 TWh não foram injetados na rede, ou seja, produzidos e consumidos pela própria instalação geradora, usualmente denominada como APE clássica. A autoprodução clássica agrega as mais diversas instalações industriais que produzem energia para consumo próprio. Um exemplo são os setores de papel e celulose, siderurgia, açúcar e álcool, química, entre outros, além do setor energético.
Por exemplo, é na indústria que a autoprodução de energia elétrica ganha maior relevância. A autoprodução de eletricidade desloca parcela do consumo final. Dessa forma, alivia a demanda de investimento na expansão do parque de geração e da rede de transmissão do setor elétrico.
Avanço também é puxado pelo crescente interesse de empresas menores pela autoprodução de energia
Empresas de diversos setores da economia, como da indústria e varejo, continuam de olho na possibilidade de gerar sua própria energia. Contudo, já é vista uma movimentação de empresas menores que não se enquadram na categoria de eletrointensivas indo em direção à autoprodução de energia. “Hoje vemos empresas que consomem muito menos, só 5 Mw médios, buscando essa alternativa”, avalia Regis Itikawa, gerente de Gestão de Geração da Ecom Energia.
O executivo aponta ainda os motivos que estão atraindo os consumidores para autoprodução de energia elétrica. “Eu enxergo três pilares nessa busca: as empresas que estão no mercado livre e têm um custo de energia alto e representativo, geram sua própria energia, pagam menos e têm uma redução de encargos; o que acaba pesando muito na conta. Têm melhor previsibilidade de custos e pode alcançar estabilidade de preços. O terceiro ponto é a neutralização da pegada de carbono. Hoje há muitos projetos de energia renovável por conta dessa preocupação ambiental”, explica.
Quando reflete sobre o interesse dos consumidores por fontes renováveis, Regis destaca a escolha por energias eólica e solar. “Há procura por várias tecnologias, mas essas oferecem implementação mais rápida e o impacto socioambiental é menor, já que não é necessário utilizar áreas muito grandes para instalação”, reforça.
Questões socioambientais motivam busca por autoprodução de energia
Segundo o advogado Fabiano Brito, sócio do Mattos Filho Advogados, as empresas buscam a autoprodução para fugir de encargos e, principalmente, por questões ambientais. Além disso, Brito avalia ainda qual é de fato o impacto da MP 998/20 na autoprodução. “É uma discussão que vinha há algum tempo e já eram esperadas regras de transição para as fontes renováveis. O setor eólico e o solar já estão amadurecidos e ganharam corpo nos últimos anos. No primeiro momento, podemos ter algum ajuste marginal. No entanto, não vai ser um choque que irá desestruturar uma cadeia de fornecimento ou irá parar a expansão das renováveis. Chegamos a um nível de tecnologia da cadeia, do financiamento aos consumidores, que as fontes renováveis são o futuro das próximas décadas”, afirma o especialista.
De acordo com o advogado, a MP 998/20 altera as fontes renováveis, porém a autoprodução está ligada com as fontes renováveis e cresce por outros fatores. “Primeiro, o mercado amadureceu e financiadores e consumidores têm interesse de que haja projetos; e a competição tem feito o preço cair. O segundo fator é o incentivo da legislação com a não incidência de determinados encargos. Essas empresas participam do setor, investem na área. Há um terceiro fator: o movimento do ESG, a responsabilidade social e corporativa. Trata-se de um incentivo para que as empresas invistam em energia limpa, e assim reduzir sua pegada ambiental. Por isso, não vejo impacto da MP sobre esse movimento”, diz Brito.
Estratégia une sustentabilidade e competitividade
O Banco do Brasil está investindo em geração de energia elétrica solar como uma forma de reduzir a emissão de poluentes globais e ter mais competitividade. De acordo com Mauro Ribeiro, vice-presidente do banco, novos investimentos poderão sair do papel em breve. “Nós começamos esse projeto de GD solar em 2018. Hoje, entre projetos em operação, em construção ou em licitação, nós estamos falando de 10 projetos que respondem por cerca de 10% do consumo geral do banco. Nesse momento, nosso desafio nesse primeiro trimestre é estender esses 10 para no mínimo 22, ou seja, mais do que dobrar o que fizemos em dois anos”, conta o executivo no Giro Energia.
Um futuro promissor para a autoprodução de energia no Brasil
Definitivamente, as perspectivas para ambiente de atuação do autoprodutor no mercado livre de energia se mostram positivas. Além das novas tecnologias já disponíveis para geração, controle e comercialização, há expectativa de maior participação na matriz de consumo; fruto de uma regulação que vai permitir mais abertura e a possibilidade de acesso de todos os consumidores.
Portanto, o setor elétrico tem sentido a chegada de uma nova onda de investimentos, em grande e pequena escalas, que fortalecem a modalidade. Em síntese, a autoprodução de energia no Brasil já está em um caminho sem volta. Esse caminho beneficia a sustentabilidade, racionaliza riscos e custos, contribui para a expansão da geração do país, gera empregos, aumenta a arrecadação tributária e torna a indústria nacional mais competitiva.
É possível ouvir o conteúdo completo, com essas e outras abordagens feitas pelos especialistas no podcast Giro Energia!