[:pb]É fato que, já há alguns anos, estamos acompanhando uma visível mudança nos padrões de chuvas durante o verão brasileiro, estação marcada pela incidência de chuvas, tão importantes para a regularização dos reservatórios utilizados na geração de energia hidráulica e que vêm impactando fortemente a geração de energia no País, principalmente no que se refere ao preço de energia.
No momento atual não corremos nenhum risco de um “apagão” por falta de disponibilidade de energia, visto que o chamado balanço estrutural, que é a potência instalada de geração disponível no País, atende à demanda de consumo, que tem sido mais baixa devido aos anos de crise econômica e ao baixo crescimento do PIB.
Porém, o maior risco, novamente, está no preço da energia a ser gerada que, mais uma vez, similar ao que vem acontecendo desde 2014, apresenta grande volatilidade e uma tendência de preços mais altos por conta da necessidade de geração térmica, necessária devido à falta de chuvas e à baixa recuperação do nível dos reservatórios.
Mais uma vez temos a expectativa de um ano com preços de energia muito altos, em razão da baixíssima ocorrência de chuvas nos meses de dezembro de 2018 e, no mês atual, fevereiro de 2019. Os níveis dos reservatórios não se recuperaram e o governo já sinaliza para a necessidade do uso intenso de geração térmica nos próximos meses, o que deverá puxar os preços do MWh para cima, tanto no mercado livre como no mercado cativo, com o acionamento antecipado das bandeiras tarifárias.
A mudança no regime de chuvas e seu impacto no setor elétrico
Fica claro que os padrões climáticos mudam de tempos em tempos e não sabemos se isto é sazonal ou definitivo, mas é fato que temos uma situação semelhante há alguns anos com uma mudança no padrão de chuvas durante o período úmido. Isto sem dúvida deve ser um sinal de alerta e não podemos mais simplesmente não notar essa mudança e continuar, ano após ano, contando com a chuva como uma certeza ou, às vezes, torcendo para que o próximo período chuvoso seja generoso.
É necessário repensar a matriz energética como um todo, mas também é importante avaliar o aumento da geração térmica, principalmente a de gás natural, que será abundante com o aumento do Pré-Sal, e repensar a volta das usinas hidrelétricas estruturantes, com reservatórios de armazenamento. Essa reflexão é pertinente porque, nos últimos anos, o Brasil decidiu trocar as grandes usinas hidrelétricas com reservatórios para as do tipo “fio d´água”, ou seja, tiramos o reservatório em “terra” e deixamos no “céu”. Essa seria uma ótima estratégia, desde que as chuvas fossem regulares e abundantes nos seus ciclos, o que não vem acontecendo nos últimos anos.
É fato que a discussão mais abrangente envolve fatores ambientais e sustentáveis. Contudo vale destacar que, mesmo as usinas hidrelétricas com grandes reservatórios são consideradas renováveis e têm o menor custo de geração no mundo. Talvez no Brasil tenhamos “demonizado” os reservatórios das hidrelétricas cedo demais e agora estamos, literalmente, pagando um preço alto. Basta observar o valor do MWh projetado para os próximos meses no momento atual em que estamos no pico do período chuvoso e, novamente, com pouca chuva.
Precisamos pensar, a longo prazo, na expansão do nosso parque gerador, levando em conta que os padrões de chuvas podem ter mudado e que, talvez, precisaremos estocar mais água e não ficar na “torcida” para que tenhamos chuvas suficientes. Além disso, uma matriz com mais geração térmica a gás deve ser prevista, justamente para um equilíbrio hidrotérmico mais eficiente, menos volátil e com mais previsibilidade de preços de energia.
Temos que repensar.
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