Energia é um insumo fundamental em qualquer ramo de atividade econômica. Nas indústrias, por se tratar de custo direto e variável na produção, sempre foi alvo de controle e de iniciativas de racionalização de consumo. Nos últimos anos, os setores não industriais também começaram a se preocupar com este item e passaram a buscar formas de economia nesta despesa.
O mercado livre de energia tem se mostrado uma alternativa eficiente para reduções de preços quando comparados às tarifas reguladas do mercado cativo. Neste contexto vimos a participação do mercado livre passar de 23% em 2016 para os atuais 30% do mercado total. Obviamente que a economia no custo de aquisição de energia já se traduz como um importante objetivo a ser buscado. O que pouco temos valorizado em relação ao mercado livre são seus demais benefícios, também relevantes na boa gestão financeira dos negócios.
Um consumidor, ao se tornar livre, tem acesso à negociação bilateral de contratos, na qual será pactuado, além de volume e preço, também o prazo, a possibilidade de realizar modulação e poderá, ainda, definir a fonte energética desejada. Outra grande vantagem é não aplicação do sistema de bandeiras tarifárias ao preço negociado contratualmente, o qual se manterá fixo independentemente da cor da bandeira.
O mercado cativo tem suas tarifas definidas anualmente pela ANEEL através de regras de reajuste/revisão tarifária específicas para cada distribuidora. De forma simplificada, a metodologia leva em consideração a estrutura de custos de aquisição de energia, investimentos e ganhos de produtividade de cada concessionária, a cada aniversário de reajuste e acrescidos dos custos sistêmicos, desde a escolha da expansão da matriz energética até os encargos setoriais. Incidirá ainda, um incremento por KWh, conforme o sistema de bandeira tarifária (amarela/ vermelha1/ vermelha 2), que varia de acordo com a performance dos reservatórios hídricos e as condições de geração.
Com uma boa prática de gerenciamento dos negócios, os gestores financeiros organizam e lideram eventos para acompanhar, rotineiramente, sua performance real comparada à prevista. Esses momentos propiciam a oportunidade de avaliar, além da performance das receitas, a estrutura de custo do orçamento aprovado, identificando os desvios e planejando as ações corretivas e preventivas de forma adequada.
Ao pensarmos exclusivamente no insumo energia, o cenário de projeção do mercado livre será infinitamente mais simples: preço x volume x correção por inflação. Assim, as análises se concentrarão nas variações de volume, que serão aderentes ao processo produtivo da indústria ou ao consumo, no caso de estabelecimento comercial/serviços.
No mercado cativo, por sua vez, para a projeção das variáveis da tarifa, se fará necessário acessar conhecimentos diversos e informações complexas, atreladas principalmente à estrutura de custo da concessionária de distribuição. É possível que a efetivação dessas estimativas venha a trazer distorções relevantes na confecção da peça orçamentária e no real acompanhamento do custo, podendo ainda impactar em distorções nas margens esperadas.
O mercado livre passa a ser um contraponto a essa dificuldade. Os consumidores, ao selarem um contrato de energia, pactuam volume, preço e prazo, com reajuste anual pela inflação, cuja previsão, em geral, já é parte dos planejamentos e costuma ser de fácil acesso. A gestão eficiente desta contratação, com observância ao seu perfil de consumo, possibilitará, além de rentabilizar sua operação, travar a incerteza de um insumo relevante em sua estrutura de custo, servindo como um aliado para a blindar as peças orçamentárias, possibilitando inclusive, planejamentos financeiros mais alongados.