Mercado Livre de Energia Elétrica: abertura total e irrestrita?

Ecom
  • 10/03/2022
  • 6 min de leitura

O PL 414, que trata da abertura total do Mercado Livre de Energia Elétrica, começa a ser discutido na Câmara e tem boas chances de ser aprovado neste semestre.

Sua aprovação pode criar um novo mundo: fornecedores de energia poderão fazer propaganda de seus produtos na televisão, assim como as operadoras de Telecom fazem há anos. Mas, como as comercializadoras estão se preparando para este momento? 

Para entender mais, entrevistamos dois especialistas no Mercado Livre de Energia:

  • Rodrigo Ferreira, presidente da Abraceel;
  • Paulo Toledo, sócio-diretor da Ecom Energia. 

Em seguida, ouça o que eles dizem:

Expectativas para abertura total do Mercado Livre de Energia Elétrica 

Os entrevistados estão otimistas com a votação do PL 414 neste primeiro semestre. Afinal, o projeto de lei poderá representar a possibilidade de os consumidores residenciais também terem liberdade na escolha do fornecedor de energia. 

Há 20 anos ouvimos sobre a possibilidade de abertura total do mercado, mas agora ela parece bem factível. Então, o que irá mudar para comercializadoras e consumidores com a abertura? Além disso, novos produtos serão criados? Ademais, virão novos players para o mercado? Confira.

Giro Energia: O relatório do PL 414/2021 circulou no Carnaval e tem sido leitura dos executivos. Qual sua impressão dele?

Rodrigo: Estivemos em interação estreita com o governo. Estávamos bem próximos e achamos que ele segue a diretriz básica da discussão. Isso é um ponto positivo.

Nesse sentido, achamos que é um projeto bem equilibrado, que proporciona uma modernização do setor elétrico. A começar pelo cronograma de abertura total do mercado livre de energia de 42 meses.

Achamos que poderia ser um pouco antecipado, mas preferimos manter o texto. 

Seis meses não fazem tanta diferença. Mas achamos que todo o restante de alta tensão poderia ser liberado antes, em janeiro de 2024. Mas isso é um ponto que devemos trabalhar quando o projeto começar a ser discutido e a ganhar emendas.

Giro Energia: Qual o tempo para discutir essas emendas e como será a janela de votação dele?

Rodrigo: Espero que seja votado em março. O presidente da Câmara já disse que o setor elétrico é prioridade, então isso é um ponto positivo.

Giro Energia: O que a abertura do mercado livre de energia elétrica deve proporcionar ao setor?

Rodrigo: O mercado sai do atacado para o varejo. Hoje a concentração é visível: 35% da energia está no mercado livre. Mas está em dez mil empresas e 26 mil unidades consumidoras das mais de 80 milhões que temos. 

As cargas que têm migrado são menores, com consumidores menores. É natural que seja dessa forma. Surgem novos nichos, produtos, veremos empresas fazendo propaganda na televisão, como streaming, operadora de telefonia. 

Haverá produtos de prateleira feitos “para você”. Ou seja, para o consumidor que tenha veículo elétrico, que tenha GD solar e queira bateria, que só compra energia renovável

A figura que irá organizar esse novo desenho será o comercializador varejista. Hoje nós temos 106 associados com vários perfis e interesses diferentes. Hoje há dez nichos e isso vai se ampliar muito mais com essa abertura.

E como ficam essas mudanças com abertura total?

A abertura total do mercado livre de energia elétrica deverá fazer com que as comercializadoras mudem sua forma de atuação. Ou seja, elas deverão estruturar áreas voltadas para atacado e varejo. 

Novos produtos devem ser criados. Quem explica esse cenário é o Paulo Toledo, sócio-diretor da Ecom Energia

Giro Energia: O relatório do PL 414 começou a circular no setor elétrico nos últimos dias. Está otimista, Paulo?

Paulo: A gente nunca esteve tão próximo de concretizar a abertura total. Em todo esse tempo estou no Mercado Livre de Energia e agora estamos nesse momento de seguir esse caminho de liberalizar e trazer clientes de menor porte. 

Estou otimista, salvo que é um ano de eleição e que isso vai acirrar. Mas acho que isso é questão de tempo: nesse governo ou no próximo. A guerra traz incertezas, um percalço pode interromper esse movimento.

Giro Energia: A janela é curta, né?

Paulo: Esse é o grande risco que temos, como a gente tem uma janela curta até o fim do mandato. As incertezas atuais com a guerra podem desviar a atenção. 

Corre-se um certo risco de uma demanda mais urgente ter o foco do governo e a pauta da liberalização ficar no escanteio. Mas continuo otimista.

Giro Energia: O que muda com a abertura do mercado livre de energia elétrica para a baixa tensão? 

Paulo: O mercado mais varejo é totalmente diferente do atacado em que atuamos. 

O primeiro ponto é adaptação de processos, método de venda e atendimento aos clientes. Hoje estamos em empresas maiores, um atendimento mais personalizado. Ou seja, como um private banking, em que um consultor está do seu lado. 

Quando você pulveriza, você precisa ter uma estrutura para isso. Além disso, você também precisa ter um discurso diferente para chegar a ele.

O que muda é essa estrutura de apoio, venda e atendimento. É um mundo diferente que as operadoras de telefonia sabem operar, mas que as de energia estão distantes. 

Giro Energia: Vamos ver novos produtos no mercado livre de energia elétrica?

Paulo: Sim, serão criados. Estamos mirando o que saiu em outros mercados.

Giro Energia: Vocês estão mirando consumidores de menor porte?

Paulo: Eu acho que o residencial nesse momento não está no foco da abertura total.

Está mais na geração distribuída. Mas o comercial de baixa tensão, como uma rede de padaria, gráfica, esses estabelecimentos serão o foco no primeiro momento. 

Depois disso aí, sim, residências. 

Teremos preços diferenciados de madrugada, pode ter desconto para casa de veraneio, contrato anual com valores diferentes com uso e sem uso, por exemplo. 

Mas para ter sofisticação precisa ter aspectos técnicos, como os medidores inteligentes. Estamos nos preparando para estruturar duas áreas: atacado e varejo.

Giro Energia: Como está essa divisão de estruturas? Já estão fazendo a separação mesmo?

Paulo: Ainda não, estamos em um passo anterior e interno, em investimentos com digitalização nos processos e sistemas de atendimento de atacado para que eles fiquem adaptados para consumidores menores.

E você, o que espera dessa abertura total do mercado?

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