Os investimentos em energia limpa vêm crescendo no Brasil e no mundo. E essa é uma tendência que irá se reforçar ainda mais com a COP26. Nesse contexto, projetos de autoprodução podem continuar atraindo financiamento de energia renovável e crédito com condições melhores que outros setores da infraestrutura.
Vale ressaltar, ainda, que as condições macroeconômicas mudaram, logo, o crédito ficou mais seletivo. Mas projetos de geração e autoprodução de energia devem se manter atraentes.
Para entender mais sobre esse cenário de financiamento de energia renovável, conversamos com Daniel Keller, sócio da Una Partners, e Regis Itikawa, gerente de Gestão de Geração da Ecom Energia. Ouça a entrevista completa:
GIRO: As condições macroeconômicas mudaram. Isso representa crédito mais caro para infraestrutura?
DANIEL: Sem dúvida, nenhuma.
A economia está andando de lado, o dólar mudou de patamar, a inflação está em alta e os juros também tiveram que subir. Esse movimento faz com que as condições que os credores pedem para o financiamento de projetos mudassem. Vai ficar mais caro.
GIRO: Já se vê aumento de taxas? No setor de energia, se veem algumas debêntures com IPCA mais sete e meio.
DANIEL: Sim, vê-se aumento de taxas pedidas. Antes era IPCA mais cinco.
O mercado está mais seletivo. A tendência é de que a inflação deve ter um ritmo menor em 2022, mas ainda assim pode ficar alta, isso é um fator que pressiona. Teremos também um ano eleitoral, então o mercado de crédito ficará mais seletivo.
GIRO: Como fica a questão do financiamento em bancos públicos e privados?
DANIEL: Há bancos, como o Banco do Nordeste, que têm taxas mais atrativas. Por isso ele deverá continuar sendo procurado. No entanto, o mercado de capitais também ganhou um papel relevante nesses últimos anos e deve continuar sendo uma das alternativas. Os bancos públicos, no entanto, podem recuperar uma parte do espaço perdido.
O setor de energia renovável deverá continuar se destacando.
GIRO: A COP26 reforça a tendência de financiamento de energia renovável?
RÉGIS: Sem dúvida, a agenda de descarbonização continua muito forte e será uma crescente. Por isso fontes renováveis terão um espaço ainda maior.
A causa ESG é um vetor importante, as taxas subiram, mas dá para atenuar em muitos pontos. O governo, por exemplo, está trabalhando para conceder isenção de importação para equipamentos fotovoltaicos. Nesse momento, estamos também sugerindo que eles esperem um pouco para fechar porque, por conta da pandemia, está havendo pressão em algumas cadeias produtivas. Faltam contêineres, por exemplo.
GIRO: Como fica o crédito para financiamento de projetos de energia renovável? Por conta da alta de custos no mercado cativo, investir em autoprodução continua importante?
RÉGIS: O custo no mercado cativo e o aumento dos encargos, que também respingam no mercado livre, acabam tendo muito impacto sobre as contas de luz e sobre as empresas. Por isso essa busca da autoprodução é uma forma de ter maior previsibilidade orçamentária e reduzir custos. Isso se casa com a agenda ESG, por isso acredito que esse casamento veio para ficar e gerará frutos.
As condições de crédito mudaram, mas projetos de geração renovável continuarão atrativos, reflexo, principalmente, da agenda ESG, da COP26 e da busca por redução de custos. Diante desse cenário, ficam algumas perguntas: o financiamento de energia renovável e o crédito ficarão mesmo mais caros em 2022? Quanto? A inflação continuará elevada?
Vale a sua reflexão.