O REC (Renewable Energy Certicate), no português “Certificado de Energia Renovável” é uma certificação, cujo objetivo é comprovar que a energia adquirida daquela empresa provém de uma fonte renovável. Dados divulgados pelo Instituto Totum, emissor de RECs no Brasil, apontam que de janeiro a abril foram negociados 4 milhões de I-Recs no país, a mesma quantidade transacionada em todo o ano de 2020. Ou seja, trata-se de um segmento que tem crescido com muita força quando falamos em certificados de energia renovável.
Há dois tipos de certificados: os I-RECs padrões e os I-RECs com chancela REC Brazil, por exemplo. A diferença essencial é que, no caso do REC Brazil, a empresa também é certificada para critérios de sustentabilidade e impacto social de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). No REC Brazil, além de a empresa poder emitir um certificado de energia renovável, ela ainda comprova que tem um impacto positivo do ponto de vista social, de acordo com critérios dos ODS e isso dá ainda mais força para o certificado.

O sistema funciona por uma contabilização que controla o equilíbrio entre entrada e saída de certificados. Quando uma geradora é certificada, a energia gerada é acompanhada da geração dos Certificados de Energia Renovável (RECs) correspondentes ao montante produzido. Um REC é a prova de que 1 MWh (um megawatt hora) foi injetado no sistema a partir de uma fonte de geração de energia renovável. Quando um consumidor compra um REC de uma geradora, ele se apropria, por meio de um certificado, daquela energia que foi injetada no sistema e aquele REC não será usado por mais ninguém e aquela quantidade de energia sai da conta do sistema, por exemplo.
Eletricidade a partir de fontes renováveis cresce em todo mundo
A geração de eletricidade a partir de fontes renováveis deve dar um salto de mais de 8% em 2021. Isso responde por mais da metade do aumento no fornecimento geral em todo o mundo. A maior contribuição para esse crescimento vem da energia solar e eólica, que estão a caminho de seu maior aumento anual da história. A produção partir do vento deve crescer 275 TWh, ou cerca de 17%, em relação ao ano passado. Espera-se que a geração solar fotovoltaica aumente em 145 TWh, quase 18% a mais que no ano passado. Sua produção combinada está a caminho de atingir mais de 2.800 TWh em 2021.
As energias renováveis devem fornecer 30% da geração de eletricidade em todo o mundo em 2021, sua maior parcela da matriz energética desde o início da Revolução Industrial e um aumento de menos de 27% em 2019. A China deve responder por quase metade do aumento global, seguidos pelos Estados Unidos, União Europeia e Índia.
O que é certificação I-Rec?
O I-REC Service é um sistema global de rastreamento de atributos ambientais de energia projetado para facilitar a contabilidade confiável de carbono, para Escopo 2, compatível com vários padrões internacionais de contabilidade de carbono. Ele permite a todos os usuários de eletricidade fazer uma escolha consciente e baseada em evidências para a energia renovável, em qualquer país do mundo.
O ciclo de certificação funciona da seguinte forma: uma empresa que deseja ser emitente de I-RECs (certificados de energia renovável) deve aderir ao Código I-REC, passando por uma auditoria documental pelo emissor local. Estando com todos os documentos conformes e com o fim da auditoria, a empresa paga as taxas do Programa e é registrada na Plataforma I-REC. Após inclusão na Plataforma, a empresa passa a ter permissão para emissão e transferências de I-RECs (cada I-REC equivale a 1MWh de energia gerada). No Brasil, por exemplo, o emissor local é o Instituto Totum.
Certificação da origem de energia entrou na agenda de sustentabilidade das empresas
A agenda de sustentabilidade tem feito as empresas certificarem a origem de sua energia, um movimento que tende a crescer cada vez mais. Sendo assim, esse recurso permite que os consumidores livres atestem o uso de energia com menor impacto ambiental.
De acordo com Fernando Lopes, diretor do Instituto Totum, os certificados de energia vão se sofisticar, chegando inclusive a ser horários. “Sem dúvida nenhuma, isso é um apelo muito forte, e tem motivado o interesse das empresas. O programa completou dez anos no Brasil desde a sua criação. Em 2014 ocorreu a primeira transação de I-Recs, onde foram negociados 244 certificados para uma agência bancária. Em 2019 foram 2,5 milhões. No ano passado foram negociados um total de 4 milhões de megawatts. Somente em abril deste ano, vamos alcançar 4 milhões de emissões.
Apesar da alta em 2021 dentro da expectativa, Fernando diz que o potencial ainda é muito grande. “Em toda a Europa e EUA, por exemplo, são negociados 600 milhões de I-Recs. Mas é difícil comparar, porque essas regiões têm mercados voluntários e obrigatórios. Aqui no Brasil é totalmente voluntário. Em 2020 trabalhamos apenas 1% do que eles estavam movimentando.
Em suma, a procura parte do movimento de sustentabilidade das empresas, que têm programas mundiais para reduzir a pegada de carbono, afirma o executivo. “As empresas medem três aspectos de suas emissões: próprias, a frota de veículos, os gases dos processos, âmbito interno; escopo 2 são as emissões em função de energia elétrica, estão limitadas à matriz energética do país em que estão. No Brasil, quem não tem rastreabilidade precisa divulgar sua média em relação à matriz do país.
Aqui se consome 75 kg de Co2 para cada MWh. Em contrapartida, na Europa é maior, já a nossa matriz é mais limpa. Quem certifica pode diminuir muito mais. Outro perfil é quem participa de índice de sustentabilidade, como ISE e Dow Jones, pois eles pedem por uma postura sustentável. Por último, são os prédios verdes que têm certificados, e um dos itens exige energia renovável”, explica Fernando.
Multinacionais preocupadas com energia renovável
A busca por informações sobre os certificados de energia renovável tem sido crescente, diz Carlos Miranda, executivo de comercialização da Ecom Energia. “Há uma preocupação crescente das empresas com a origem da energia que compram. Isso se vê, principalmente, nas multinacionais. É um movimento que ganhou importância, com as empresas buscando comprar de usinas eólicas, solares e outras fontes renováveis, por exemplo”, avalia.
Miranda fala ainda sobre outros tipos de certificação, como o Selo Verde. “O I-Rec é um selo mais sofisticado, mas também há procura por selos verdes, como o da Única, que atesta que a empresa usa energia de biomassa de cana de açúcar. Esse é um selo voluntário e a Ecom Energia é uma das comercializadoras que trabalham com ele”, explica.
Futuro sustentável para o setor elétrico
A busca pelos certificados de energia renovável está crescendo com força e provocando uma inflexão no mercado. Trabalha-se em um projeto piloto de Recs horários para ser iniciado até o fim do ano. Na outra ponta, por exemplo, empresas estão se adiantando para divulgar o uso de energia renovável na embalagem de seus produtos.
Em resumo, aguardamos ainda quais serão os impactos que esse crescimento terá sobre a gestão de energia das empresas. Nessa corrida, o setor elétrico deve estar preparado para esse futuro sustentável. Por fim, esse é um dos caminhos para a evolução do segmento.