Muitas foram as mudanças causadas pela pandemia da Covid-19 em todo o mundo. A desaceleração brusca da economia, agora em fase de recuperação, foi uma delas. Além disso, houve mudança na forma como nos relacionamos com as pessoas e adaptação do modelo de trabalho, por exemplo. Ao mesmo tempo, outros temas que foram ganhando ainda mais relevância nesse último e complexo ano. Entre eles, avançaram com prioridade na pauta da sociedade o consumo consciente, a preocupação com a sustentabilidade e o exercício das práticas ESG (Environmental, Social and Governance) pelas empresas.
De forma geral, a cobrança por sustentabilidade tem se tornado maior. Quando um negócio busca minimizar os impactos ao meio ambiente, tem em sua espinha dorsal a preocupação com suas pessoas e a adoção de boas práticas administrativas. Com isso ele conquista uma melhor resposta da sociedade e influencia não apenas sua relação com os consumidores, mas com o mercado financeiro.
Parte desse processo de transformação é impactado fortemente quando se trata do uso de energias renováveis; uma fatia de custo importante das empresas. Apesar de não ser novo, o conceito ESG se tornou um padrão de ouro no mundo dos negócios, afinando suas práticas à percepção de imagem das companhias.
Mercado de energia trabalha para ampliar a matriz energética brasileira com fontes renováveis
É no mercado livre que as companhias têm encontrado diversas vantagens como a possibilidade de se negociar volumes, prazos, reajustes, flexibilidades e preços no contrato de energia. Além da economia, previsibilidade orçamentária e possibilidade de rentabilização, essa liberdade se estende ainda para a escolha do tipo de energia que se deseja utilizar. Isso significa, na prática, liberdade para escolher fontes de energia renovável. E, definitivamente, elas não podem mais ficar de fora da estratégia de negócio quando a sustentabilidade está em jogo.
Esse movimento, portanto, dita o reflexo positivo das renováveis no mercado elétrico. Responsável pela atração de mais de R$ 32 bilhões em novos investimentos ao Brasil, a fonte solar no mercado regulado ultrapassou a marca de 700 mil unidades consumidoras com geração própria de energia. De acordo com o levantamento da Absolar a modalidade representa mais de 6,3 GW de potência instalada operacional.
Hoje, a energia solar representa 2% da matriz elétrica do país, podendo atingir 2,9% até o fim de 2021, de acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Nos últimos três anos, o crescimento da energia solar centralizada (gerada por grandes usinas) foi de 200%. Enquanto a solar distribuída (pequenas centrais de geração) passou de 2.000%. Segundo o Ministério de Minas e Energia, só em 2020, a capacidade instalada em energia solar fotovoltaica cresceu 66% no país. Já a energia eólica hoje representa 10,9% da matriz elétrica brasileira. Ademais, a expectativa é que essa fonte chegue a 13,6% ao fim de 2025.
Emissão de I-RECs aumenta 55%
Sem dúvida, o Brasil tem se destacado frente ao compromisso de consolidar o crescimento da sua matriz de energia limpa, e as empresas também estão mais dispostas do que nunca a colaborar com essa transformação. Nesse sentido, vemos uma agenda de investimentos sustentáveis mais robusta em diversas frentes. Além disso, destaca-se a busca por comprovar o uso energia limpa, que tem levado as companhias a adquirir certificados de energia renovável. De acordo com o Instituto Totum, emissor de I-Recs no Brasil, foram negociados 6,2 milhões desses papéis entre os meses de janeiro e setembro deste ano. Isso representa um volume 55% superior ao registrado no ano passado, quando a emissão foi de 4 milhões.
Com isso, a expectativa é encerrar 2022 com a negociação de 10 milhões de papéis. Ou seja, certamente mais um aceno positivo para a diversificação da matriz energética brasileira.

Mercado Livre de Energia mais maduro para práticas ESG
Com um mercado maduro, o ambiente de contratação livre de energia (ACL) caminha para um alinhamento pleno aos pilares do ESG; que passaram a ser fundamentais nas análises dos riscos e nas tomadas de decisões dos investidores.
As empresas, atentas aos percalços da não adoção dessas práticas, estão colocando o ESG em dia. Nesse sentido, a energia elétrica se torna estratégica na linha de frente dessa mudança. Abraçadas a uma nova forma de fazer negócios, adiantam-se na compra de energia de olho no mercado futuro, inclusive. Em resumo, seja por meio de RECs, autoprodução ou geração distribuída, o período pós-pandemia já embala a rede da sustentabilidade de forma mais incisiva no mercado elétrico. A expansão das energias renováveis é uma realidade em nosso país e será fator decisivo de competitividade para as empresas que miram redução de riscos e novos mercados. Há ainda um considerável trajeto a se percorrer pelo universo ESG; de aprendizado e mudança de atitude, mas ao se consolidar será um caminho sem volta.